Descrição
[último grito do sobrevivente]
em versos tortos e ilegíveis te direi quem sou …
sou: – pau preto moldado nos gemidos de amor e guerra
p’ra debicar as vontades de nascer
sou: – a escultura do ser embalado pela capulana
nas pretas costas tatuadas pelo chicote
ah, esse sou eu: – filho aquecido pelo calor do lume
no hilariante karingana wa karingana
da voz tímida da mãe Karolina.
escrevo te com a mão trémula de ignorância
e grossa de fobia …
sob a luz eterna das fogueiras acesas noite inteira
crepitando pilheiras às hienas carnívoras
ah, esse sou: – pau preto torrado pelo desespero
da inexprimível escravatura …
escrevo te em papiros pardos de nódoas de sangue
das feridas visíveis à flor da pele
tatuadas pelo chicote dos tempos doentios
insistentemente, escrevo te sobre a minha eterna identidade
fecunda a cada parir do sol sob o abismo da minha existência […]
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